''São só palavras. São maleáveis, voláteis, e eu as junto as vezes, não sei exatamente porque e nem se esse porque existe. De qualquer forma, agora são suas palavras também.''

terça-feira, 8 de junho de 2010

Conto *-*

# Parte 1





















Certa vez, me preocupei mais com o que achariam de mim. Certa vez, dei mais importância pro que queriam que eu fizesse, Talvez seja por isso, e só por isso que agora eu estou aqui. Perdida. Andando sem rumo por esse bosque detestável. Não é que eu não goste de árvores e tudo mais, é só que de madrugada esse lugar me dá calafrios. ‘Isso que dá’, eu me via repetindo olhando de novo minha calça preferida com um corte enorme em cima da cocha direita e toda manchada de sangue. Eu não devia ter vindo, deveria ter escutado meu instinto só dessa vez. Mais porque eu não fiz isso? Medo. Era a única coisa que responderia para aquela pergunta. Medo de não ser aceita. Medo de passar por ridícula. Medo de ficar sozinha para sempre. Porque era assim que eu me sentia. Sozinha. Abandonada e sem apoio. Eu tinha acabado de sair da Los Angeles, e vim parar na cidade que eu mais odeio e todo esse mundo. Paris. Sim, eu odeio a cidade. As lembranças não são as melhores. Eu passei todos os outonos aqui, dos meu 9 anos aos 15, depois eu dei um basta nisso tudo. Meus pais são separados, um casamento que eu nunca entendi como aconteceu. Eu fiquei com a minha mãe depois da separação, mas de um tempos pra cá ela não está muito bem, você entenderia se visse Carla Zimermmam calada. Foi então que eu tive uma idéia: um cruzeiro, de algumas semanas, e eu poderia aproveitar enquanto ela estava fora também, eu e Max havíamos planejado tudo. Foi aí que aconteceu, ela gostou tanto dá idéia que decidiu ficar um ano viajando. Ela decidiu assim que eu lhe entreguei as passagens (uma pra ela e outra pra Juno, sua melhor amiga), foi instantâneo, e eu nunca consegui lhe fazer mudar de idéia. Então ela me mandou pra cá. Me mandou pro meu pai. E eu não estou nem um pouco feliz com isso...
Eu o odeio. Odiava quando ele ficava bêbado. Odiava quando ele trazia mulheres estranhas para casa. Quando ele dava festas no apartamento, e quando arrependido me dava presentes.
Eu acho que ele nunca significou muita coisa pra mim, e foi por isso que me senti assim, abandonada. Desolada. Com um estranho.
Estava tudo tão bem em Los Angeles ! Eu tinha ótimas amigas, eu tinha um namorado super fofo que me amava, e eu tinha uma família... Eu saia, eu me divertia, e eu estudava numa escola que era ‘tudo de bom’. Então, do nada, tudo mudou! Eu vim parar nessa cidade que o mundo inteiro admira, e eu não sinto o menor carinho ou orgulho de mostrar pros meus antigos amigos, meu namorado e eu terminamos por causa da distância, minha mãe me deixou, e meu pai está tentando ser simpático.
E agora eu estou aqui, nesse bosque detestável, de uma cidadezinha perto de Paris. Saint –Mandé. Eu adoro esse lugar, adoro a Confiserie da Rue de I’ Allouette, adoro o Château de Vincennes. Eu gosto dessa pequena cidade, ela me traz calma, me conforta.
Acho que foi por isso que vim pra cá, não me lembro realmente o motivo, peguei meu carro, se você fosse como meu pai, saberia que não é um carro qualquer, um porsche 911 turbo, prata. Mas eu não ligo muito pra isso, eu só o acho bonito, nada mais. Então, comecei a dirigir. Disso eu sempre gostei muito, a sensação de liberdade que a velocidade pode te trazer, a sensação de que você está voando, e com uma música boa tocando no fundo...